Quando um casal de arquitetos têm dois filhos pequenos, sempre chega um dia em que estes perguntam:
- Papai, mamãe, vocês são arquitetos, não é?
- Sim.
- E fazem casa para as pessoas?
- Sim, claro.
- E por que não fazem uma casinha para nós?
Nesta situação, nos encontramos antes do verão e prometemos que construiríamos sua casinha na granja de seus avós, na Finlândia, e claro, diante da insistência e perseverança deles, cumprimos entusiasmados a nossa promessa.
A casinha baseia-se principalmente em uma seção, que é a estrutura, bastante simples, que se repete em dois módulos iguais, ainda que orientados em direções opostos. Um destes módulos recebe um pé direito duplo (na escala das crianças), o que permite que um adulto possa entrar na casa sem ter que se agachar. O outro módulo tem dois níveis, conectados por uma simples escada permitindo uma dinâmica mais completa no seu interior.
Este ponto de partida permite que, desde o exterior, o projeto adquira o caráter de um elemento quase abstrato, sem referência à escala, enquanto que no interior, ao cruzar-se dois módulos, identifique-se a seção prototípica de uma casinha de crianças, com suas coberturas simétricas, como as que nós mesmos desenhávamos quando pequenos.
O interior converte-se então na redução essencial do que as crianças entendem por uma habitação: um espaço maior que poderia ser a sala, um espaço em menor altura onde poderia-se colocar a cozinha e a sala de jantar, e um sótão onde estariam os quartos. Uma habitação completa, reduzida a 13,5m2.
Ainda que, a abstração do interior também faça a imaginação voar e aqueles espaços que poderiam identificar-se com um interior doméstico, convertam-se repentinamente nas masmorras de um castelo medieval, e o sótão na torre principal da onde dispara-se flechas aos inimigos.
A construção da casinha durou duas semanas. Foi feita completamente de maneira autônoma, em duas pessoas (nós mesmos, mais dois pequenos ajudantes), e foi um processo tão gratificante quanto educativo: as crianças vieram e entenderam que as coisas são conseguidas com esforço, e que a própria pessoa podo fabricar seus sonhos.
Para a estrutura e os pisos utilizou-se madeira de abeto da própria granja, de árvores plantadas nos bosques pelo bisavô das crianças, e cortadas por seu avô. O resto da madeira foi comprado nas serralherias da zona.
Toda a casa foi feita de madeira; estrutura, pisos, paredes e cobertura, utilizando sistemas tradicionais para que a casa tenha ventilação, e um sistema de cobertura feita a partir de uma simples superposição de tábuas de madeira ranhurada, para evitar a entrada de água. Somente umas pequenas calhas de chapas galvanizadas ajudam a retirar a água e proteger as aberturas na fachada.
A casa foi pintada com listras brancas verticais, que continuam na cobertura e ajudam a explicar a seção original do projeto. O resto da madeira deixa-se sem tratamento, de forma que com o passar do tempo, irá tomar um tom acinzentado que contrastará cada vez mais com as partes pintadas, demonstrando, de uma forma mais óbvia, o tempo passar e assim, ir envelhecendo com as crianças.
Estas listras dão um caráter festivo ao volume, assimilando-o a uma tenda de festival ou uma antiga casinha para se trocar na praia, ainda que neste caso, o seu entorno seja totalmente rural, rodeada por macieiras, que confere, ainda mais, à obra um caráter de sonho.